quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sobre Bolsa e Volatilidade

               Há quem diga que a bolsa precisa de volatilidade para subir. Este grupo acredita que investidores gostam de volatilidade e com o retorno dela o fluxo de capital aumentaria em grande escala, fazendo com que o índice aumente.
                De fato, existem investidores que operam na volatilidade, pois sempre que ela se eleva há uma maior chance de se comprar na baixa e vender na alta.  Esse tipo de investidor opera no curtíssimo prazo e, na maioria dos casos, não considera os fundamentos; mas as aberturas e fechamentos dos gráficos de preços de ação, as linhas de tendências que se formam pelas resistências superiores e inferiores de preços e até figuras que, historicamente, precederam uma subida ou descida do preço do papel.
Entretanto, esse tipo de investidor não é aquele que fará a bolsa subir. O índice da bolsa de um país como o nosso sobre através do investimento dos chamados fundos emergentes ou BRIC’s. Como eles entram com um imenso aporte de capital, a bolsa acaba subindo.
                Note que conforme o índice aumenta mais gente vai querer investir para pegar uma fatia do bolo. E quanto mais agentes operando no mercado, maior a probabilidade de ter gente comprando e vendendo papeis fora do preço justo. Essas diversas ofertas de compra e venda em diferentes preços que aumentam a volatilidade.
                Então, podemos dizer que a bolsa não precisa de volatilidade para subir, mas quando o índice começar a crescer a volatilidade também crescerá. Um simples equivoco na ordem de causalidade de dois efeitos pode levar a uma conclusão errônea e perigosa.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Dinheiro Mal Gasto


Por: Dárcio Lazzarini

                O BNDES é um banco público federal criado para ser um instrumento de financiamento de longo prazo para as empresas realizarem investimentos produtivos que agreguem no desenvolvimento econômico e social. De fato, ele vem concedendo empréstimos com baixas taxas de juros para diversas empresas; contudo, um gigantesco montante de crédito vai para as grandes corporações. Mas qual o impacto desses vultosos empréstimos com pequenas taxas de juros no curto e longo prazo?
                O impacto imediato desses investimentos é a inflação; embora já tenha ouvido de alguns economistas e políticos que o investimento leva a uma pressão baixista nos níveis de preços porque aumenta a oferta. É evidente que o capital investido aumenta a capacidade instalada o que pode causar uma elevação da capacidade ociosa que diminui os níveis de preços. Contudo, isso leva tempo. A melhor frase que já ouvi e li é auto-explicativa: "o investimento demora para virar investimento". Isso quer dizer que o capital investido levará algum tempo para aumentar a capacidade instalada e gerar capacidade ociosa. O impacto imediato é a inflação que é causada pelo aumento da demanda por insumos e mão-de-obra. Muito provavelmente, os ganhos de longo prazo compensarão as perdas de curto em circunstâncias normais; contudo, devemos pensar e repensar se isso vale a pena na atual conjuntura econômica, onde a inflação está sendo, novamente, a protagonista da história.
                No médio e longo prazo, destaco a colaboração para a manutenção de altas taxas básicas de juros e diminuição da eficiência produtiva.
                O crédito direcionado do BNDES corresponde a cerca de um quarto do crédito total. As taxas de juros observadas nessa modalidade de crédito são muito mais baixas que as praticadas no mercado, consequentemente, ele não é afetado por mudanças na taxa básica de juros. Então, como a taxa SELIC só afeta o crédito não direcionado, para controlar a demanda seriam necessários aumentos na taxa básica maiores daqueles praticados em um cenário com menos crédito direcionado. Para corrigir o problema, as taxas de juros dos direcionados deveriam acompanhar as praticadas no mercado ou o volume desse tipo de crédito cair em grande escala, o que é pouco provável.
                Por fim, os créditos direcionados às grandes corporações concentram ainda mais a indústria. Essas empresas teriam condições de tomar empréstimo no mercado mais facilmente que as pequenas e médias empresas por causa dos seus melhores ratings, mas, aparentemente, o BNDES também só analisa o risco para a concessão do crédito e não o benefício que o capital emprestado irá gerar para a economia. Os grandes empréstimos do BNDES às corporações dificultam a entrada de novas instituições o que diminui a competitividade e a eficiência econômica, pois uma empresa sem concorrentes não tem incentivo à inovação; ela será um grande elefante branco que nunca desmamará de sua mãe: o governo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Metas de Inflação, Reformas e Expectativas

Por: Dárcio Lazzarini

O Conselho Monetário Nacional (CMN) vai fixar a meta de inflação de 2013 em 4,5%. O mesmo valor que vem sendo perseguido por seis anos consecutivos, sem contar que ela permanece constante nesse ano e no próximo. Ou seja, nove anos com a mesma meta de inflação. Há quem diga que a meta poderia ser mais baixa. Mas como diminuí-la se as contas públicas ainda são tão frágeis?
Antes de pensar em diminuir a meta de inflação, outras medidas precisam ser tomadas, tais quais: reforma da previdência e melhora na qualidade do endividamento. De fato, existem países com um endividamento muito maior que o brasileiro; contudo, a dívida desses é muito mais saudável que a nossa. Esses países conseguem emitir títulos com vencimentos longos e com taxas de juros pré-fixadas. O Brasil, por outro lado, tem uma dívida com duration bem menor e, grande parte dela, pós-fixada via Letras Financeiras do Tesouro (LFT), cuja rentabilidade é a variação da taxa SELIC diária, e dívidas indexadas a índices de inflação via Notas do Tesouro Nacional, que podem ser atreladas ao IPCA se for uma NTN-B ou IGP-M se for uma NTN-C. Uma dívida com juros pós-fixados é muito mais arriscada que uma com juros pré-fixados, pois ela é vulnerável a choques futuros adversos na economia que afetam os juros. Com relação à reforma da previdência, nenhum governante deu a devida atenção ao assunto, pois ele não é de interesse de sua coalizão partidária que esteve ou está no governo. O único presidente que tinha poder político para mexer no ninho da cobra foi o anterior, mas, infelizmente, não o fez. Resta-nos agora esperar nascer um novo “Filho do Brasil” para fazer a tão esperada, pela população com exceção dos atuais e ex-funcionários públicos, reforma da previdência.
 Além do “arroz com feijão”, que todo mundo sabe ou, pelo menos, deveria saber, o BACEN poderia jogar com as expectativas e não contra elas. Em outras palavras, a questão não é aumentar ou diminuir a meta, mas sim acertá-la. Se a meta de inflação, alta ou baixa, é consistentemente acertada; o CMN pode anunciar um decréscimo da meta que as expectativas inflacionárias conduzirão a inflação corrente à anunciada. Para isso, o BC deve parar de mirar na banda superior. Se a taxa efetiva fica sempre acima da meta, o mais prudente seria subir a meta para aumentar a credibilidade do Banco Central.